26 novembro 2007

0011 - A erosão do património




As imagens acima referem-se à janela esquerda da capela do Santo Cristo em Sobral Pichorro. Entre as duas fotografias estão cerca de 60 anos, já que a da esquerda foi tirada nos anos 40 e a da direita foi um registo recente.

A primeira diferença é a presença de duas colunas, que foram entretanto retiradas (juntamente com outras duas presentes na janela esquerda) e que hoje estão colocadas no interior da capela, a servir de suporte ao pequeno altar.

Mas o que realmente interessa aqui salientar é a erosão observada na decoração da pedra superior da janela. Trata-se de uma decoração visigótica (século VI/VII), que faz da pedra um dos elementos arquitectónicos mais interessantes do edifício e único em todo o concelho. Contudo, em apenas meia dúzia de décadas a decoração quase desapareceu, o que ficará a dever-se ao carácter cada vez mais ácido e corrosivo da água das chuvas. Se nada se fizer, em breve será totalmente imperceptível. Daí que seria boa ideia propor à tutela do património (a capela é classificada como Monumento Nacional) a substituição da pedra ou a sua protecção no local. Caso contrário, a única evidência (hoje conhecida) da arte visigótica em Fornos de Algodres desaparecerá em breve.

3 comentários:

Al Cardoso disse...

Menos mal que ficam as fotografias!
Ja agora nao teria tambem sido uma limpeza com jacto de areia, ou pressao de agua?

Por vezes as pessoas a pensar que fazem bem, cometem esses errozitos!

Nuno Soares disse...

A tutela do património cultural é, em geral, extremamente eficaz a transformar num “inferno” burocrático a vida de quem queira fazer uma obra, por banal e correcta que seja, na zona de protecção de um qualquer imóvel classificado (ou no próprio imóvel). Só é pena que, muitas vezes, não demonstre igual empenho e eficácia na monitorização e salvaguarda dos bens classificados, promovendo as acções que as circunstâncias impõem (mesmo quando estes são propriedade do Estado).
Não adianta classificar bens que depois são deixados abandonados à sua sorte. A classificação é um meio; de nada vale se for tida, na prática, como um fim em si mesma.
O monumento a que se refere esta entrada, um dos mais notáveis da região, está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1944 e bem merece que se mobilizem as vontades e os meios necessários para o preservar. Para além da situação que as fotos documentam (quaisquer que tenham sido as causas), tem estado sujeito a fortes infiltrações, que lhe causaram deteriorações muito significativas, situação que, presumo ainda se manterá.
Faço sinceros votos de que este alerta da “Terras de Algodres” não caia em “saco roto”!

Recordo, a propósito, que em 2000 alertei o (então) IPPAR para a urgente necessidade de ser preservado o singular relevo medieval conhecido como “o Algodres” (na Igreja Matriz de Algodres), dada a crescente degradação causada pela erosão e por uma fissura que, partindo da base para o topo, já afecta cerca de 2/3 da altura da peça. Foi-me respondido que a direcção de Castelo Branco do IPPAR acompanharia o caso, mas que, naturalmente, haveria prioridades a observar. Pelos vistos, “o Algodres” (cujo valor patrimonial é reconhecido, apesar de não estar classificado) continua a não ser prioridade ... Resta saber se ainda será objecto de atenção, em tempo útil.

Carlos de Matos disse...

Ola Terras de Algodres !

Grito de alerta que me levou a reagir por esse post.

A degradação impressionante é irreversivel. O documento fotografico é hoje um palido testemunho dessa herança secular.

Para uma situação de urgência porque não recorrer ao mecenato cultural, local, etc... ,não sei mas qualquer fundo operacional para ajudar os defensores do patrimonio de Algodres.

Um Abraço