22 fevereiro 2008

0038 - Patrimónios da Semana 15 (Vila Ruiva)


Em Vila Ruiva, a necrópole medieval que se desenvolve em torno à Capela do Anjo constitui um importante elemento patrimonial, o qual, contudo, se apresenta mal preservado. De facto, com excepção do núcleo de cinco sepulturas mais perto da capela, as restantes encontram-se distribuídas por terrenos envolventes, chegando à periferia do aglomerado urbano. As sepulturas espalhadas encontram-se hoje praticamente invisíveis pela vegetação e algumas estão enterradas. E se parte estão em zonas de acesso mais difícil para o visitante, outras concentram-se junto a um caminho. A sepultura da imagem (que foi reaproveitada como lagariça) é uma dessas. Actualmente não se consegue ver. Seria interessante que a associação, no âmbito da iniciativa Patrimónios a Valorizar, conseguisse promover uma jornada de limpeza que tornasse visitáveis pelo menos as sepulturas deste segundo núcleo junto a um caminho, onde, inclusivamente, se encontram as únicas sepulturas escavadas na rocha de criança conhecidas no concelho.
A todos os que se queiram voluntariar para essa jornada, desde já sugerimos que contactem a associação, por forma a que estas acções anuais comecem a criar raízes (a tornarem-se elas próprias património).
(próxima freguesia: Vila Soeiro)

15 fevereiro 2008

0037 - Patrimónios da Semana 14 (Vila Chã)



Igreja de fachada de tradição românica e campanário em Vila Chã.

08 fevereiro 2008

0036 - Patrimónios da Semana 13 (Sobral Pichorro)



Sobral Pichorro é uma das mais ricas freguesias do concelho de Fornos de Algodres em termos de património histórico e arqueológico. Tem os importantíssimos sítios pré-históricos da Malhada e Fraga da Pena (este último partilhado com Queiriz), tem troços de viação romana, tem vestigios de sítios desta mesma época, tem a notável capela de Santo Cristo, tem a capela dos Girões, tem casas com elementos arquitectónicos de relevância patrimonial, tem lagariças escavadas na rocha. De tudo isto se falará aqui, nos Patrimónios da Semana, ou a propósito desta ou daquela oportunidade.

Hoje, porém, apresenta-se um outro património, por vezes ainda não reconhecido e valorizado como tal: o património geológico, que, neste caso concreto, é património geológico-cultural. Trata-se de um filão de deloritos alterados. Existem vários filões destes em Fornos de Algodres, embora se concentrem mais na zona norte do concelho, nomeadamente em torno da Fraga da Pena. Este, contudo, situado junto à estrada que da povoação da Mata (freguesia de Sobral Pichorro) se dirige à margem esquerda da Ribeira da Muxagata (muito perto da ponte que a atravessa para a freguesia das Fuínhas), é um dos mais interessantes exemplares.

A origem destes filões está relacionada com a neo-tectónica, isto é, com as dinâmicas "recentes" (à escala geológica, claro) da crosta terreste, que geram falhas e micro falhas geológicas que permitem a ascenção de magma que dá origem a estes filões deloríticos. Com o tempo, contudo, os doleritos foram-se alterando e a grande maioria encontra-se hoje tranformada em formações argilosas. O caso mais evidente é precisamente este, onde numa matriz de argila amarelada (resultado da alteração) ainda se conservam em forma de "bolas" resíduos dos doleritos originais (pontos mais escuros na imagem).


Esta argila foi utilizada pelo homem ao longo da história e continua a ser, como se pode constatar no local através dos negativos deixados por recolhas recentes. Mas numa zona essencialmente granítica, onde os depósitos naturais de argila são escassos, estes filões foram sempre um local privilegiado de abastecimento desta importante matéria-prima. Análises feitas às pastas das cerâmicas pré-históricas da Fraga da Pena e da Malhada revelaram precisamente que as argilas utilizadas na produção dessas cerâmicas eram maioritariamente originárias de doleritos alterados, ou seja, destes filões.


Estes filões (e este muito em particular, pela suas características mais singulares e curiosas) fazem parte da cultura local desde a pré-história e são um testemunho das relações que, localmente, o homem estabeleceu com o território, com a natureza e com os seus recursos. Para além de nos falarem da história natural da formação do territorio do actual concelho, falam-nos também das formas como o Homem com ele se tem relacionado e das formas como o tem culturalmente aproveitado. São, pois, património.

(Próxima freguesia: Vila Chã)

01 fevereiro 2008

0035 - Patrimónios da Semana 12 (Queiriz)



Imagem do Pelourinho de Casal do Monte (freguesia de Queiriz) em 1946 à esquerda e o mesmo espaço actualmente. Uma povoação que já foi concelho.

“Não lhe conhecemos foral nem tampouco sabemos a data em que a povoação se constituiu em concelho, que de resto já existia, como vimos, em princípios do segundo quartel de quinhentos, apesar da sua notória pequenez, quer territorial, quer demográfica. De área no seu termo, um quarto de légua em redor e apenas 21 vizinhos!
Duarte Nunes de Leão faz menção deste concelho, em 1610, como pertencente à Correição da Guarda e, segundo as «Memórias Paroquiais», em 1724 tinha 53 fogos com 170 almas.
Este pequeníssimo concelho foi suprimido com a reforma administrativa de Manuel da Silva Passos, em 1836.
* * *
É singela a velha picota de Casal do Monte, monumento de vincada rusticidade, talhado em granito cinzento de grão grosso, a pedra nativa da região. Possui três degraus octogonais de pedras mal unidas, altos e lisos, aproximadamente da mesma altura. Fuste liso de base quadrangular mal apontada, de secção octógona concordante com os degraus, com cerca de 3,5 metros de altura. Remate piramidal de oito faces de maior área na base, em relação ao fuste. Moldura inferior lisa retraída em guisa de capitel, que se alarga em varinha seguida de moldura curvilínea delimitada por um sulco.
O vértice da pirâmide do remate é cingido por anel de ferro bastante alto, variante ornamental ou acessório metálico simbólico que pela primeira vez encontramos nesta parte dum pelourinho. Na verdade, esta argola de ferro a modo de colarinho ou gargantilha, como que sugerindo o estrangulamento dos delinquentes, seria uma alusão ao carácter penal do monumento e lembraria a acção justiceira que o mesmo simboliza; para mais, colocada entre o corpo da picota – representando a jurisdição do concelho – e o pináculo afeiçoado em esfera armilar – emblema do poder real.
Esta mesma esfera armilar, sem dúvida peça constitutiva do primeiro monumento, permite-nos atribuir-lhe o reinado de D. Manuel I como época da sua construção.
A picota está fendida numa das faces do lado Norte.

Em frente, numa casa de pedra sem reboco, pobre pardieiro com uma só janela ao alto e porta de acesso para a loja onde se abre também uma pequena janela ao lado, como se vê na gravura, eram os Paços do Concelho, se tal nome se pode dar a tão acanhado casebre que de maneira edificante denuncia a pobreza e pequenez desta antiga célula municipal. No pavimento térreo, hoje utilizado como curral, se encarceravam os criminosos; servia, portanto, de Cadeia, enquanto que no andar superior se faria vereação, ou serviria de Tribunal, se é que não se empregaria para todas as funções da cousa pública, quer jurisdicionais, quer administrativas.
A pequena janela da Cadeia conserva ainda os ferrugentos varões de ferro do gradeado e nas paredes, de ambos os lados da mesma janela, vêem-se os orifícios onde, segundo nos informaram, estavam fixadas grossas argolas donde pendiam os grilhões com que se acorrentavam os prisioneiros.
Num outeiro próximo erguia-se a Forca, motivo por que o sítio conserva ainda esse nome.”

(in, Real, Mário Guedes (1953), “Pelourinho de Casal do Monte”, Beira Alta, vol. I e II, Viseu, pp. 272-277.)

Enviado por Filipe Saraiva

(Próxima freguesia: Sobral Pichorro)