Imagem do Pelourinho de Casal do Monte (freguesia de Queiriz) em 1946 à esquerda e o mesmo espaço actualmente. Uma povoação que já foi concelho.
“Não lhe conhecemos foral nem tampouco sabemos a data em que a povoação se constituiu em concelho, que de resto já existia, como vimos, em princípios do segundo quartel de quinhentos, apesar da sua notória pequenez, quer territorial, quer demográfica. De área no seu termo, um quarto de légua em redor e apenas 21 vizinhos!
Duarte Nunes de Leão faz menção deste concelho, em 1610, como pertencente à Correição da Guarda e, segundo as «Memórias Paroquiais», em 1724 tinha 53 fogos com 170 almas.
Este pequeníssimo concelho foi suprimido com a reforma administrativa de Manuel da Silva Passos, em 1836.
* * *
É singela a velha picota de Casal do Monte, monumento de vincada rusticidade, talhado em granito cinzento de grão grosso, a pedra nativa da região. Possui três degraus octogonais de pedras mal unidas, altos e lisos, aproximadamente da mesma altura. Fuste liso de base quadrangular mal apontada, de secção octógona concordante com os degraus, com cerca de 3,5 metros de altura. Remate piramidal de oito faces de maior área na base, em relação ao fuste. Moldura inferior lisa retraída em guisa de capitel, que se alarga em varinha seguida de moldura curvilínea delimitada por um sulco.
O vértice da pirâmide do remate é cingido por anel de ferro bastante alto, variante ornamental ou acessório metálico simbólico que pela primeira vez encontramos nesta parte dum pelourinho. Na verdade, esta argola de ferro a modo de colarinho ou gargantilha, como que sugerindo o estrangulamento dos delinquentes, seria uma alusão ao carácter penal do monumento e lembraria a acção justiceira que o mesmo simboliza; para mais, colocada entre o corpo da picota – representando a jurisdição do concelho – e o pináculo afeiçoado em esfera armilar – emblema do poder real.
Esta mesma esfera armilar, sem dúvida peça constitutiva do primeiro monumento, permite-nos atribuir-lhe o reinado de D. Manuel I como época da sua construção.
A picota está fendida numa das faces do lado Norte.
Em frente, numa casa de pedra sem reboco, pobre pardieiro com uma só janela ao alto e porta de acesso para a loja onde se abre também uma pequena janela ao lado, como se vê na gravura, eram os Paços do Concelho, se tal nome se pode dar a tão acanhado casebre que de maneira edificante denuncia a pobreza e pequenez desta antiga célula municipal. No pavimento térreo, hoje utilizado como curral, se encarceravam os criminosos; servia, portanto, de Cadeia, enquanto que no andar superior se faria vereação, ou serviria de Tribunal, se é que não se empregaria para todas as funções da cousa pública, quer jurisdicionais, quer administrativas.
A pequena janela da Cadeia conserva ainda os ferrugentos varões de ferro do gradeado e nas paredes, de ambos os lados da mesma janela, vêem-se os orifícios onde, segundo nos informaram, estavam fixadas grossas argolas donde pendiam os grilhões com que se acorrentavam os prisioneiros.
Num outeiro próximo erguia-se a Forca, motivo por que o sítio conserva ainda esse nome.”
(in, Real, Mário Guedes (1953), “Pelourinho de Casal do Monte”, Beira Alta, vol. I e II, Viseu, pp. 272-277.)
Enviado por Filipe Saraiva
(Próxima freguesia: Sobral Pichorro)
1 comentário:
Bela descricao!
tem piada que sera precisamente ao Casal do Monte e o seu pelourinho, que me referirei na proxima entrada sobre o tema "Pelourinhos" que iniciei em; http://aquidalgodres.blogspot.com/
Um abraco dalgodrense.
Enviar um comentário