Sobral Pichorro é uma das mais ricas freguesias do concelho de Fornos de Algodres em termos de património histórico e arqueológico. Tem os importantíssimos sítios pré-históricos da Malhada e Fraga da Pena (este último partilhado com Queiriz), tem troços de viação romana, tem vestigios de sítios desta mesma época, tem a notável capela de Santo Cristo, tem a capela dos Girões, tem casas com elementos arquitectónicos de relevância patrimonial, tem lagariças escavadas na rocha. De tudo isto se falará aqui, nos Patrimónios da Semana, ou a propósito desta ou daquela oportunidade.
Hoje, porém, apresenta-se um outro património, por vezes ainda não reconhecido e valorizado como tal: o património geológico, que, neste caso concreto, é património geológico-cultural. Trata-se de um filão de deloritos alterados. Existem vários filões destes em Fornos de Algodres, embora se concentrem mais na zona norte do concelho, nomeadamente em torno da Fraga da Pena. Este, contudo, situado junto à estrada que da povoação da Mata (freguesia de Sobral Pichorro) se dirige à margem esquerda da Ribeira da Muxagata (muito perto da ponte que a atravessa para a freguesia das Fuínhas), é um dos mais interessantes exemplares.
A origem destes filões está relacionada com a neo-tectónica, isto é, com as dinâmicas "recentes" (à escala geológica, claro) da crosta terreste, que geram falhas e micro falhas geológicas que permitem a ascenção de magma que dá origem a estes filões deloríticos. Com o tempo, contudo, os doleritos foram-se alterando e a grande maioria encontra-se hoje tranformada em formações argilosas. O caso mais evidente é precisamente este, onde numa matriz de argila amarelada (resultado da alteração) ainda se conservam em forma de "bolas" resíduos dos doleritos originais (pontos mais escuros na imagem).
Esta argila foi utilizada pelo homem ao longo da história e continua a ser, como se pode constatar no local através dos negativos deixados por recolhas recentes. Mas numa zona essencialmente granítica, onde os depósitos naturais de argila são escassos, estes filões foram sempre um local privilegiado de abastecimento desta importante matéria-prima. Análises feitas às pastas das cerâmicas pré-históricas da Fraga da Pena e da Malhada revelaram precisamente que as argilas utilizadas na produção dessas cerâmicas eram maioritariamente originárias de doleritos alterados, ou seja, destes filões.
Estes filões (e este muito em particular, pela suas características mais singulares e curiosas) fazem parte da cultura local desde a pré-história e são um testemunho das relações que, localmente, o homem estabeleceu com o território, com a natureza e com os seus recursos. Para além de nos falarem da história natural da formação do territorio do actual concelho, falam-nos também das formas como o Homem com ele se tem relacionado e das formas como o tem culturalmente aproveitado. São, pois, património.
(Próxima freguesia: Vila Chã)
3 comentários:
Muito interessante esta parte do patrimonio por muitos desconhecida!
Um abraco dalgodrense.
SÓ É PENA QUE TANTO PATRIMONIO EXISTENTE NESSA FREGUESIA E QUE ESTEJA TUDO AO ABANDONO E QUE NÃO HÁ NENHUM PRESIDENTE DE JUNTA OU DA CAMARA QUE DEITE MÃO A MONUMENTOS TÃO IMPORTANTES QUE EXISTE NAQUELA FREGUESIA.
Só é pena é estar tudo ao abandono como é possivel uma capela estar restaurada por fora e por dentro a cair nuna propriedade pertencente á igreja UMA VERGONHA PONHAM MÃO NISTO SRS. PRESIDENTES DA JUNTA tenham vergonha tambem
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